sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ESTÁ NA COLUNA DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS


Bancários abandonados

BRASÍLIA - Mesmo em meio à crise econômica, o Natal foi antecipado. Do presidente Lula aos ministros Mantega e Meirelles, dos comentaristas especializados aos âncoras desinformados da televisão, dos gestores da Bovespa aos dirigentes de associações patronais de classe, todo mundo festeja a fusão do Itaú com o Unibanco. Fala-se na antecipação do Natal porque até um Papai Noel apareceu nas telinhas, na figura do presidente de um dos dois bancos. Estivesse vestido de vermelho e não de terno escuro e tornar-se-ia o ídolo da criançada.

De repente, é o Brasil outra vez dando lições para o mundo. Formaram um dos vinte maiores bancos do planeta, mesmo que seja o vigésimo. Deram demonstração de pujança internacional. Injetaram ânimo ao mercado. Vão estimular o crédito, garantir a indústria e impulsionar a agricultura. Tudo bem, não há que discutir essas e mil outras expressões de euforia natalina.

No entanto... No entanto, ninguém falou do maior problema encoberto nessa fusão: vai haver desemprego em massa, na classe dos bancários. Ou alguém acredita que unificados os serviços permanecerão trabalhando os 69 mil funcionários do Itaú e os 35 mil do Unibanco?

Faz algum tempo que o assalariado brasileiro tornou-se peça descartável e supérflua. Ninguém pode ser contra a automação e os avanços da tecnologia e da cibernética, mas o que dizer, por exemplo, da categoria antes poderosa e até exorbitante dos estivadores? Saíram pelo ralo com a modernização dos portos e do transporte marítimo. Como começaram a sair os bancários, desde a instalação de máquinas de fornecer dinheiro e sucedâneos.

Seria bobagem remar contra a maré, como malandragem também é incutir nos jovens a concepção da livre e nem sempre ética concorrência entre eles. Trata-se de expediente dos poderosos para manter o controle sobre os fracos. Será que os dois presidentes de sobrenomes nobres e famosos concorreram para chegar aonde chegaram? Ou valeram-se do casamento de seus pais e avós para herdarem instituições para a formação das quais não contribuíram?

As demissões não demoram, apesar de promessas encobertas, sempre seguidas do terrível "por enquanto não pensamos nisso". Por enquanto pode durar um mês ou um ano, mas vai passar. Quem pensa nos bancários, como seres humanos? Talvez nem eles, a partir de agora empenhados na cruel tentativa de manter seus empregos, mesmo à custa dos colegas das mesas e balcões ao lado.

O triste nessa história é que do governo não se ouviu uma só palavra em defesa dos bancários. Nem de Lula nem de seus ministros, integrantes de um partido que já foi do trabalhador.

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Publicado no Jornal Tribuna da Imprensa

Rio de Janeiro, 06/11/1008

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