quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A COPA DA LEVIANDADE

Transcrevo neste espaço, um artigo do jornalista Janio de Freitas, publicado na edição do dia 01 de fevereiro do corrente ano, no jornal Folha de São Paulo, e que me foi remetido pelo amigo cartunista Cláudio de Oliveira, que por muitos anos trabalhou na Tribuna do Norte e no Diário de Natal.
Atualmente Cláudio reside em São Paulo e trabalha no Grupo Folha.

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Prefeitos de capitais e respectivos governadores estão
empenhados em uma competição nunca ocorrida por aqui.
Para todos os ouvidos públicos, dizem tratar-se da disputa
pela inclusão de sua capital entre as 12 que sediarão jogos
da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. A verdade é um
pouco menos modesta do que os prefeitos e governadores. A
conquista que eles buscam é incluir-se entre os 12 prefeitos
e outros tantos governadores que vão estourar os cofres e
muito futuro de suas capitais, e se necessário os dos Estados
também, em benefício de sua popularidade eleitoral. A Copa
do Mundo é precedida pela Copa da Leviandade, promovida
pelo governo Lula.
A estimativa de custo da Copa entregue a Lula no meio da
semana, por suas eminências Joseph Blatter e Ricardo
Teixeira, duas riquezas do peleguismo futebolístico que
presidem a Fifa e a CBF, refere-se a R$ 35 bilhões
calculados pela Fundação Getúlio Vargas. Se o custo fosse
aquele, equivaleria a duas vezes e mais 30% de todo o
Orçamento para a Educação como será apresentado,
amanhã, na reunião ministerial. Ou quase nove vezes o
Orçamento para Ciência e Tecnologia.
Sabe-se, porém, que estimativas de custo de obras, no
Brasil, são o que há de mais consagrado na ficção brasileira.
Bem, saber, não se sabe: vê-se. Uma das batalhas de Juca
Kfouri, a um só tempo inglórias e gloriosas, é a cobrança do
relatório do Tribunal de Contas da União sobre o custo, e as
mágicas que o fizeram, do Pan no Rio em 2006. Dinheiro do
Ministério do Esporte, da Prefeitura do Rio e do governo
fluminense. Pois nem o TCU cumpre o mínimo dever legal e
público de divulgar suas constatações, quanto mais os que
torraram, entre aplicações e divisões, o dinheiro público em
que estimativas de R$ 50 milhões chegaram, na realidade, a
dez vezes o estimado. Sem explicação.
O que não se sabe, vê-se. O Rio, há muito maltratado, foi
abandonado de todo, para a prefeitura pagar o saldo de seus
gastos e remendar as contas durante dois anos e meio, como
prevenção parcial do risco de inquéritos e processos na
sucessão. Isso em uma capital com os recursos do Rio.
Uma cidade como Natal, cujo encanto não se traduz em
dinheiro sequer em proporção aproximada, diz o noticiário
que está gastando R$ 3,5 milhões só para engambelar a
apresentação de sua candidatura. Propõe-se a construir um
estádio, com projeto encomendado na Inglaterra, de custo
estimado em R$ 300 milhões. Digamos, contra tudo, que a
estimativa seja exata. A cidade e a população de Natal não
têm carências inatendidas até hoje por falta de R$ 300
milhões? Na concepção eleitoreira e rentável, a
continuidade, pelo tempo afora, das carências de Natal e das
outras capitais de menor riqueza é compensada por três ou
quatro jogos das oitavas da Copa.
O plano da cidade de São Paulo é exuberante. São Paulo
pode. Mas seria interessante saber por que os bilhões
paulistas, que entusiasmam o prefeito Gilberto Kassab ao se
referir às obras para a Copa, não lhe dão o mesmo
entusiasmo para usá-los, por exemplo, em obras corajosas
que humanizem o neurotizante trânsito paulistano.
Das pequenas capitais à potência de São Paulo, só as
quantias variam. O desprezo pelas cidades e suas
populações, presentes e futuras, é o mesmo. Expresso na
Copa das Leviandades.
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