Pela primeira vez na história do governo Lula, o vento econômico global mudou e agora sopra contra o Brasil. Chegou a hora da verdade, o grande teste de sua liderança. E ela balança.
Desde 2003, Lula operou bem em meio a um dos maiores e mais abrangentes ciclos de expansão econômica do planeta. Com instinto apurado e carisma, estimulou abonados e descamisados, numa virtuosa convergência de forças produtivas.
Os resultados foram impressionantes. Os investimentos cresceram com vigor por 18 trimestres, junto com renda, emprego, crédito, confiança. Lula tornou-se o presidente com a maior aprovação da história deste país.
Mas veio o crash financeiro global, presságio do crash econômico global. E Lula entrou em modo de negação. Passou semanas dizendo que não era conosco, tripudiando os EUA, dando pitos e conselhos irônicos ao colega George W. Bush.
Mas a crise já está entre nós, também é nossa.
O dólar dispara, a Bovespa despenca, investimentos são suspensos, fábricas param a produção, o crédito às empresas seca. Isso não é uma marola, como previu Lula, mas um tsunami.
Como seu governo demorou a agir, o câmbio ficou solto demais num mundo em convulsão. O dólar deu um grande salto, e agora o custo de alguma imprescindível estabilidade cambial será maior.
As divisões dentro da equipe econômica acentuam a sensação de falta de rumo, de hesitação. É verdade que o cenário está incerto demais para criar convicções sobre o que fazer. E agir errado pode ser ainda mais danoso do que não agir.
Mas há um perigo real e imediato de o presidente se deixar seduzir pelo canto das velhas sereias de que o Estado vai salvar nosso crescimento. O voluntarismo econômico sempre trouxe catástrofe ao Brasil.
E a tentação heterodoxa aumentará junto com as crescentes dificuldades econômicas e também políticas. Os reveses do presidente nas eleições municipais, principalmente em São Paulo, mostram como o projeto petista de manutenção do poder com a candidatura Dilma é frágil. Já Serra se fortalece.
Lula precisa descer do pedestal. Ficou muito mais difícil governar o Brasil.
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TEXTO: Jornalista Sérgio Malbergier
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