Republicamos abaixo - na íntegra -,uma matéria de autoria do conceituado especialista em tecnologia e blogueiro, Sílvio Meira, publicada em seu blog no dia de ontem (21) sobre os conhecidos "bafômetros", verdadeiro pavor de quem gosta de tomar "água que passarinho não bebe" e sair dirigindo veículos automotores pelas nossas ruas e estradas.
Vale a pena ler.
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Quando se trata de motoristas alcoolizados, o Brasil tem uma das mais radicais legislações do planeta. Em algumas cidades, como Recife, verdadeiros cercos noturnos estão sendo realizados, à cata de qualquer um que tenha bebido uma taça de vinho que seja. E não deve ser para menos: as dezenas de milhares de mortes por ano, no trânsito brasileiro, têm muito a ver com pé na tábua e álcool no sangue.
Descontadas todas as desculpas, inclusive as de quem acha que meia garrafa de vinho nem se leva em conta como álcool, na prática, no Chile, Argentina, França e Itália, e nem por isso, por lá, morre tanta gente no trânsito… o caso brasileiro talvez seja grave o suficiente pra gente radicalizar e depois, quem sabe, voltar atrás.
Bem no centro da guerra contra o álcool na direção estão os bafômetros, aqueles instrumentos “de precisão” capazes de medir o teor de álcool no seu sangue em duas casas decimais. Mesmo?
Pois bem. Um número de casos, nos Estados Unidos, está pondo em séria dúvida a capacidade dos breathalyzers [como são chamados os bafômetros por lá] de realmente decidirem quem passou da conta ou não. No caso de uma das marcas de bafômetros, a dräger, uma revisão sistemática do software usado no aparelho detectou falhas que podem por em sério risco a validade dos diagnósticos do mesmo. Segundo especialistas independentes, o software do bafômetro modelo 7110 da dräger… [shows ample evidence of incomplete design, incomplete verification of design, and incomplete “white box” and “black box” testing]… tem claras evidências de incompletude de projeto, verificação de projeto e de incompletude de testes. O bafômetro 7110 da dräger teria mais de dez falhas que comprometeriam, de forma radical, o resultado das análises feitas com o equipamento.
A dräger pode acabar tendo que devolver US$7M que o estado de New Jersey gastou em seus bafômetros, e o estado pode ter que compensar em muitos milhões a mais as pessoas que condenou a penas diversas, baseado em evidências produzidas [literalmente] pelo bafômetro. Isso se o judiciário de lá levar em conta as análises de software que ele mesmo solicitou.
E não é o caso de um único fabricante ter problemas: em Minnesota, a CMI está toda enrolada com seu modelo intoxilyzer 5000 en, cujo software não quer submeter a uma análise independente para certificar se a coisa funciona como deveria e, se não, em que condições dá pau.
Resumo? este é um caso bastante claro em que membros da sociedade podem incorrer em graves penalidades decididas, na prática, por um programa de computador. no Brasil, se o bafômetro do policial à sua frente mostrar mais de 0,2g/l de álcool no sangue, você está em dificuldades. Se a discussão que está rolando nos EUA tiver fundamento, deveríamos exigir uma verificação ampla, pública e transparente, ou de ampla aceitação pública, da funcionalidade e qualidade do software que é, de fato, o bafômetro, para melhorar as garantias de que não estamos sendo analisados por software defeituoso.
E isso é só parte do problema: hoje, é o software do bafômetro. Amanhã, pode ser software em muitas outras coisas, tomando decisões sobre se você pode ou não trabalhar, ir ao parque, à escola, votar, procriar e por aí vai. eu e vocês todos vivemos em um mundo cada vez mais instrumentado por software; mas não é por isso que devemos, todos e pura e simplesmente, nos render a ele como se fosse um novo Deus todo-poderoso. pois não é. E não deveria chegar a ser, nunca.
Falando nisso, quais são as marcas dos bafômetros sendo utilizados no Brasil e por quais testes, verificações e validações amplas, gerais e irrestritas eles passaram, em que condições? Quantos dräger e CMI [além de outros com os mesmo tipos de problemas] estão nas ruas, por aqui?
Descontadas todas as desculpas, inclusive as de quem acha que meia garrafa de vinho nem se leva em conta como álcool, na prática, no Chile, Argentina, França e Itália, e nem por isso, por lá, morre tanta gente no trânsito… o caso brasileiro talvez seja grave o suficiente pra gente radicalizar e depois, quem sabe, voltar atrás.
Bem no centro da guerra contra o álcool na direção estão os bafômetros, aqueles instrumentos “de precisão” capazes de medir o teor de álcool no seu sangue em duas casas decimais. Mesmo?
Pois bem. Um número de casos, nos Estados Unidos, está pondo em séria dúvida a capacidade dos breathalyzers [como são chamados os bafômetros por lá] de realmente decidirem quem passou da conta ou não. No caso de uma das marcas de bafômetros, a dräger, uma revisão sistemática do software usado no aparelho detectou falhas que podem por em sério risco a validade dos diagnósticos do mesmo. Segundo especialistas independentes, o software do bafômetro modelo 7110 da dräger… [shows ample evidence of incomplete design, incomplete verification of design, and incomplete “white box” and “black box” testing]… tem claras evidências de incompletude de projeto, verificação de projeto e de incompletude de testes. O bafômetro 7110 da dräger teria mais de dez falhas que comprometeriam, de forma radical, o resultado das análises feitas com o equipamento.
A dräger pode acabar tendo que devolver US$7M que o estado de New Jersey gastou em seus bafômetros, e o estado pode ter que compensar em muitos milhões a mais as pessoas que condenou a penas diversas, baseado em evidências produzidas [literalmente] pelo bafômetro. Isso se o judiciário de lá levar em conta as análises de software que ele mesmo solicitou.
E não é o caso de um único fabricante ter problemas: em Minnesota, a CMI está toda enrolada com seu modelo intoxilyzer 5000 en, cujo software não quer submeter a uma análise independente para certificar se a coisa funciona como deveria e, se não, em que condições dá pau.
Resumo? este é um caso bastante claro em que membros da sociedade podem incorrer em graves penalidades decididas, na prática, por um programa de computador. no Brasil, se o bafômetro do policial à sua frente mostrar mais de 0,2g/l de álcool no sangue, você está em dificuldades. Se a discussão que está rolando nos EUA tiver fundamento, deveríamos exigir uma verificação ampla, pública e transparente, ou de ampla aceitação pública, da funcionalidade e qualidade do software que é, de fato, o bafômetro, para melhorar as garantias de que não estamos sendo analisados por software defeituoso.
E isso é só parte do problema: hoje, é o software do bafômetro. Amanhã, pode ser software em muitas outras coisas, tomando decisões sobre se você pode ou não trabalhar, ir ao parque, à escola, votar, procriar e por aí vai. eu e vocês todos vivemos em um mundo cada vez mais instrumentado por software; mas não é por isso que devemos, todos e pura e simplesmente, nos render a ele como se fosse um novo Deus todo-poderoso. pois não é. E não deveria chegar a ser, nunca.
Falando nisso, quais são as marcas dos bafômetros sendo utilizados no Brasil e por quais testes, verificações e validações amplas, gerais e irrestritas eles passaram, em que condições? Quantos dräger e CMI [além de outros com os mesmo tipos de problemas] estão nas ruas, por aqui?
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TEXTO:
(Sílvio Meira)
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