sexta-feira, 22 de maio de 2009

SERÁ QUE O BÊBADO É O "BAFÔMETRO"?

Republicamos abaixo - na íntegra -,uma matéria de autoria do conceituado especialista em tecnologia e blogueiro, Sílvio Meira, publicada em seu blog no dia de ontem (21) sobre os conhecidos "bafômetros", verdadeiro pavor de quem gosta de tomar "água que passarinho não bebe" e sair dirigindo veículos automotores pelas nossas ruas e estradas.
Vale a pena ler.
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Quando se trata de motoristas alcoolizados, o Brasil tem uma das mais radicais legislações do planeta. Em algumas cidades, como Recife, verdadeiros cercos noturnos estão sendo realizados, à cata de qualquer um que tenha bebido uma taça de vinho que seja. E não deve ser para menos: as dezenas de milhares de mortes por ano, no trânsito brasileiro, têm muito a ver com pé na tábua e álcool no sangue.
Descontadas todas as desculpas, inclusive as de quem acha que meia garrafa de vinho nem se leva em conta como álcool, na prática, no Chile, Argentina, França e Itália, e nem por isso, por lá, morre tanta gente no trânsito… o caso brasileiro talvez seja grave o suficiente pra gente radicalizar e depois, quem sabe, voltar atrás.
Bem no centro da guerra contra o álcool na direção estão os bafômetros, aqueles instrumentos “de precisão” capazes de medir o teor de álcool no seu sangue em duas casas decimais. Mesmo?
Pois bem. Um número de casos, nos Estados Unidos, está pondo em séria dúvida a capacidade dos breathalyzers [como são chamados os bafômetros por lá] de realmente decidirem quem passou da conta ou não. No caso de uma das marcas de bafômetros, a dräger,
uma revisão sistemática do software usado no aparelho detectou falhas que podem por em sério risco a validade dos diagnósticos do mesmo. Segundo especialistas independentes, o software do bafômetro modelo 7110 da dräger… [shows ample evidence of incomplete design, incomplete verification of design, and incomplete “white box” and “black box” testing]… tem claras evidências de incompletude de projeto, verificação de projeto e de incompletude de testes. O bafômetro 7110 da dräger teria mais de dez falhas que comprometeriam, de forma radical, o resultado das análises feitas com o equipamento.
A dräger pode acabar tendo que devolver US$7M que o estado de New Jersey gastou em seus bafômetros, e o e
stado pode ter que compensar em muitos milhões a mais as pessoas que condenou a penas diversas, baseado em evidências produzidas [literalmente] pelo bafômetro. Isso se o judiciário de lá levar em conta as análises de software que ele mesmo solicitou.
E não é o caso de um único fabricante ter problemas: em Minnesota, a
CMI está toda enrolada com seu modelo intoxilyzer 5000 en, cujo software não quer submeter a uma análise independente para certificar se a coisa funciona como deveria e, se não, em que condições dá pau.
Resumo? este é um caso bastante claro em que membros da sociedade podem incorrer em graves penalidades decididas, na prática, por um programa de computador. no Brasil,
se o bafômetro do policial à sua frente mostrar mais de 0,2g/l de álcool no sangue, você está em dificuldades. Se a discussão que está rolando nos EUA tiver fundamento, deveríamos exigir uma verificação ampla, pública e transparente, ou de ampla aceitação pública, da funcionalidade e qualidade do software que é, de fato, o bafômetro, para melhorar as garantias de que não estamos sendo analisados por software defeituoso.
E isso é só parte do problema: hoje, é o software do bafômetro. Amanhã, pode ser software em muitas outras coisas, tomando decisões sobre se você pode ou não trabalhar, ir ao parque, à escola, votar, procriar e por aí vai. eu e vocês todos vivemos em um mundo cada vez mais instrumentado por software; mas não é por isso que devemos, todos e pura e simplesmente, nos render a ele como se fosse um novo Deus todo-poderoso. pois não é. E não deveria chegar a ser, nunca.
Falando nisso, quais são as marcas dos bafômetros sendo utilizados no Brasil e por quais testes, verificações e validações amplas, gerais e irrestritas eles passaram, em que condições? Quantos dräger e CMI [além de outros com os mesmo tipos de problemas] estão nas ruas, por aqui?
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TEXTO:
(Sílvio Meira)
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